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Publication type: news
Propagandas de remédios não fazem distinção entre gripes
Jornal Cruzeiro do Sul 2009 Jul 25
http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=38&id=205005
Full text:
Enquanto o Ministério da Saúde pede que a população não se automedique em caso de suspeita de gripe suína e procure ajuda médica, um bombardeio de propagandas de antigripais vendidos sem receita vai em direção contrária, alertam especialistas. Estrelados por personagens como ovelhas que cantam e dançam e lutadores de caratê, todos representando a gripe, os comerciais não fazem nenhuma distinção entre a gripe comum e a nova gripe A(H1N1). A ordem é tomar uma pílula diante de qualquer sintoma da doença.
“Tira a dor. Desentope. Revigora. Dá de 3 na gripe”, diz o anúncio do carateca. Já outro explica que “a gripe de dia derruba você, à noite não deixa você dormir” E conclui, com as ovelhas ao som de um bolero: “Você precisa de um tratamento completo!” “Penso que em uma situação dessas, de início de uma epidemia que não sabemos como vai ser, qualquer fator que contribua para mascarar um caso da gripe é desastroso”, diz José Ruben Bonfim, presidente da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos
Em nota, a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica enfatizou que “os anúncios de medicamentos indicados para a prevenção ou o tratamento dos sintomas de gripe não interferem no correto encaminhamento (…) da gripe A (H1N1)”. A entidade diz ainda que “a afluência de pessoas aos postos de saúde e hospitais (…) demonstra que a população está alerta e sabe que o encaminhamento e tratamento da gripe A são completamente diferentes dos indicados para a gripe comum.” Já a Associação Brasileira de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abmip) destacou ainda que o mercado teve comportamento inferior a 2008 entre janeiro e junho (crescimento de 3,1%, contra 4,2% em 2008) e que o investimento publicitário também foi “ligeiramente” abaixo de 2008.
De todos os medicamentos anunciados contra a gripe, explica Bonfim, alguns, às vezes, apenas combatem alguns de seus sintomas unindo, por exemplo, substâncias descongestionantes e antitérmicos. “Já pedimos diversas vezes que não sejam vendidos como drogas contra a gripe “ Os únicos tratamentos que realmente combatem o vírus influenza, causador da doença, são duas drogas vendidas somente com prescrição e que não podem anunciar para leigos.
“Lógico que um antitérmico, um descongestionante, usados com orientação, diminuem o sofrimento. Mas para a gripe suína não resolve nada. Acho os comerciais lamentáveis, um risco. Há gente que deveria olhar isto mais de perto”, opina o infectologista Celso Granato, da Universidade Federal de São Paulo. “Seria uma providência cautelar suspender este tipo de anúncio”, conclui Bonfim. No ano passado, a pedido das autoridades, a Abmip diz que associadas chegaram a suspender comerciais de analgésicos durante a epidemia de dengue, providência repetida neste ano.
Além disso, por causa das epidemias, as drogas que também são anticoagulantes hoje têm aviso para não serem usadas em caso de suspeita de dengue. A Anvisa informou que as advertências relativas à dengue ocorreram após reclamações de abusos. Disse ainda que até o momento “não verificou uma mudança no perfil de propaganda” dos antigripais. A Anvisa defendeu que os medicamentos anunciados são “para o alívio dos sintomas da gripe, e não para a gripe”, apesar dos comerciais não serem claros, segundo os especialistas.