Políticas Farmacêuticas: a Serviçodos Interesses da Saúde?
José Augusto Cabral Barros
Problemas persistentes apesar das soluções conhecidas
No conjunto dos países subdesenvolvidos e na América Latina, em
particular, apesar da existência de estratégias e políticas há muito formuladas
e que podem levar ao manejo adequado do setor farmacêutico, tal como
ressaltam Ugalde et al. (2002), podem ser identificadas nos países da região
que têm tomado iniciativas em favor do uso racional dos medicamentos,
pressões em sentido contrário de médicos, indústria farmacêutica e até
mesmo da população mal informada. Ressaltam, ainda, os mencionados
autores a sobrevivência de problemas a exemplo da quantidade excessiva de
produtos registrados, os sistemas de aquisição, armazenamento e distribuição
inadequados, o elevado grau de automedicação, a prescrição inapropriada e
o não cumprimento da prescrição.
26 Fazem parte da entidade cerca de 1000 empresas biotecnológicas, instituições acadêmicas e centros biotecnológicos
presentes em 30 países.
No contexto das mudanças econômicas internacionais e na tentativa
de somar esforços para preservar interesses comuns, foram organizados
blocos de países com maiores afinidades geográficas e/ou econômicas, tais
como Mercosul, Mercado Comum Centro-americano e Grupo Andino (o
primeiro desses blocos tem sofrido o impacto da grave crise argentina, seguida,
posteriormente, da uruguaia e das sombrias perspectivas de todo modo
não confirmadas nos meses subseqüentes com respeito ao Brasil). Algumas
iniciativas já vêm sendo tomadas no sentido de harmonizar determinadas
políticas farmacêuticas, estando bastante longe, no entanto, daquilo que, tal
como se comentará mais adiante, já foi possível realizar na UE.
No caso específico do Brasil, uma primeira e mais aprofundada
abordagem da questão dos medicamentos, propondo diretrizes gerais de ação,
remonta aos inícios dos anos 70, com o Plano Diretor de Medicamentos da
Central de Medicamentos (CEME). Para sua execução, se propugnava:
• adoção de medidas de racionalização do sistema oficial de produção de
medicamentos;
• adoção de medidas de racionalização do sistema oficial de controle
técnico da produção e comercialização farmacêutica;
• aumento e diversificação da oferta oficial de medicamentos;
• adoção de medidas de apoio ao desenvolvimento da pesquisa científica
e tecnológica aplicada;
• adoção de medidas de apoio à capacitação e ao aperfeiçoamento de
recursos humanos;
• adoção de medidas de apoio à indústria químico-farmacêutica
genuinamente brasileira;
• adoção de medidas técnico-administrativas e institucionais de implementação
do Plano diretor de Medicamentos (Bermudez, 1992).
A despeito da persistência dos problemas antes apontados, além da formulação
de uma nova Política Nacional de Medicamentos, para o Brasil, no
plano teórico, pelo menos, mui apropriada e como parte desse contexto,
algumas iniciativas certamente muito bem vindas e louváveis foram tomadas,
mais recentemente e que poderão, se implementadas na sua plenitude,
contribuir para o redirecionamento no uso dos medicamentos no país. Tais
iniciativas contemplam componentes de um programa de medicamentos
essenciais, entre os quais se destacam o Programa de genéricos, a elaboração
de um Formulário Terapêutico Nacional, a atualização da Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais (RENAME), os avanços conseguidos no que tange
ao sistema nacional de farmacovigilância, a nova regulamentação da propaganda.
Quase nada tem sido feito, no entanto, em relação à formação e à
disponibilidade de instrumentos de atualização e reciclagem dos profissionais
de saúde que lidam com medicamentos, continuando todos eles à mercê do
farto material produzido e disseminado pela indústria farmacêutica.