Políticas Farmacêuticas: a Serviçodos Interesses da Saúde?
José Augusto Cabral Barros
PREFÁCIO
As profundas mudanças ocorridas no panorama político-econômico
internacional teriam repercussão obrigatória nos serviços de saúde e no acesso
aos mesmos, impondo limites e restrições de variada natureza, conforme
cada país, mas relacionadas, sobretudo, por um lado, às reformas de teor
neoliberal que foram implementadas e, por outro lado, ao novo marco que
passou a orientar o mercado global, com a constituição da organização
mundial do comércio e, no seio da mesma, o estabelecimento dos acordos
nela aprovados, em especial, o relativo às patentes. O papel do setor público
e suas relações com o setor privado assumiram conotações novas e conflitantes
no contexto da globalização e suas conseqüências. Entre estas caberia
destacar o fato de que, cada vez mais, descisões de caráter normativo que
afetam a toda sociedade são tomadas por entidades supranacionais, que
adotam estratégias, em grande medida, inacessíveis para a maioria (por vezes,
até mesmo, para os órgãos de comunicação de massa). As implicações das
mudanças apontadas no setor industrial farmacêutico são múltiplas e com
impacto inevitável no acesso aos medicamentos para grandes contigentes da
população, em especial de países da África e da América Latina. É evidente,
ademais, o enorme poder de influência excercido sobre governos e parlamentos
pelas organizações que congregam os interesses dos produtores a
miúde, contrários aos da saúde pública.
Se é mais ou menos consensual a idéia de que, de forma geral, não
pairam tantos questionamentos com respeito à qualidade dos fármacos ou
quanto à continuidade do processo inovador, o mesmo não pode ser dito em
relação às prioridades que vêm sendo dadas à pesquisa, aos preços impostos
aos produtos farmacêuticos ou à origem, qualidade e técnicas adotadas na
divulgação da informação sobre os mesmos.
Por outro lado, a natureza do produto com os riscos a ele inerentes
impuseram a necessidade de normas em defesa da saúde pública, de tal forma
que viessem a ser autorizados apenas os fármacos que comprovem o menor
potencial possível de efeitos adversos, dotados de eficácia terapêutica e de
qualidade aceitável.
É no quadro deste novo cenário que se insere o propósito fundamental
do presente estudo, ao eleger como objeto de reflexão as políticas de
medicamentos, perseguindo a apreensão dos seus alcances e limites, em
especial no que diz respeito aos intentos de harmonização na regulamentação
do setor farmacêutico, tal como esta se propôs e está sendo implementada
nos países da união européia. A pretensão final se orienta para extrair lições
que possam subsidiar propostas que venham aprimorar as mencionadas
políticas no Brasil e na América Latina.
O desenvolvimento do presente estudo foi possível graças ao apoio
institucional da Capes/Ministério da Educação através de bolsa de estágio
pós-doutoral concedida a que se somaram, de forma produtiva e imprescindível,
a assessoria técnica brindada pelo Dr. Mariano Madurga (División
de Farmacoepidemiologia y Farmacovigilancia/agencia española del
medicamento), pelo Prof. Albert Figueras (Departamento de Farmacologia
de la Universidad Autónoma de Barcelona) e pelo Dr. Gianni Tognoni
(Instituto di Ricerche Farmacologiche Mario Negri/Milão/Itália).
Cabe, ainda, mencionar o inestimável apoio logístico brindado pelo
Centro Nacional de Medicina Tropical do Instituto de Salud Carlos III,
do Ministerio da Sanidad e Consumo, através do seu diretor, Dr. Jorge
Alvar e da Dra. Belén Sanz. Cabe, por fim, expressar agradecimentos à ANVISA e UNESCO que possibilitaram a publicação deste livro.