Políticas Farmacêuticas: a Serviçodos Interesses da Saúde?
José Augusto Cabral Barros
Estratégias em prol do uso racional e universal dos medicamentos
Avanços terapêuticos notáveis, com repercussões positivas na assistência
médico-sanitária e suas limitações e percalços, foram objeto de reflexão no
item 1.2. O acesso aos medicamentos, no entanto, persiste (coincidindo com
dados publicados, anteriormente pela OMS) (WHO, 1988a) altamente
concentrado nos países desenvolvidos, onde, curiosamente se encontram tãosomente
20% dos 6,2 bilhões de habitantes atuais do mundo. Essas
discrepâncias podem ser visualizadas nos Gráficos 6 e 7 adiante apresentados – observa-se que 80% dos medicamentos são apropriados pela América do
Norte, Europa e Japão, enquanto que os que vivem na África, América
Latina, Ásia e Oriente Médio ficam com os 20% restantes.
Gráfico 6 – Repartição do mercado farmacêutico mundial, 2002
Fonte: IMS Health/Population Refrence Bureau.
Gráfico 7 – Distribuição da população mundial, 2001
Fonte: IMS Health/Population Refrence Bureau
Os dados apresentados nos Gráficos 6 e 7 e na Figura 7, são
reforçados, significativamente, por aqueles expostos, no Gráfico 8 (conclui-se
que, conforme o IMS Health, quase 96% das vendas mundiais de medicamentos
concentram-se em dez países desenvolvidos) e no Gráfico 9, onde se
ressalta o lugar privilegiado das vendas de fármacos com ação cardiovascular
e, em respeitável terceiro lugar, aqueles para alimentação e nutrição.
Gráfico 8 – Vendas globais de medicamentos em 2001/2002
Gráfico 9 – Medicamentos mais vendidos no mundo em 2001/2002
Um outro aspecto que vale ressaltar é o grau de concentração das vendas
globais de medicamentos: embora existam cerca de três mil fabricantes,
em 2000, os dez primeiros detinham 48% do mercado e os 15 primeiros, 58%
(Anônimo, 2003j).73 Essa concentração, também ocorre no que diz respeito às inovações, pois 87% dos produtos novos lançados na década de 90 provieram
de empresas situadas nos EUA, Japão, Reino Unido, Alemanha, França
e Suíça. Observa-se, entretanto que, ao passo que, na década mencionada
foram introduzidos 142 princípios ativos novos na UE, nos EUA e no Japão,
deram entrada no mercado, 133 e 110, respectivamente (Anônimo, 2003j).
Por outro lado, uma avaliação sobre as prioridades de P & D de novos
fármacos demonstram a concentração importante dos mesmos em enfermidades
mais prevalentes nos países desenvolvidos (vide Figura 8).74
Entretanto, sabe-se que as doenças infecciosas e parasitárias representam
25% da “carga de enfermidade”75 nos países de renda baixa e média, ao passo
que nos de renda alta essa “carga” é de 3%. Para o Banco Mundial, a eliminação
das doenças transmissíveis poderia representar o desaparecimento do
desnível de mortalidade, hoje existente entre os 20% mais ricos da população
mundial e os 20% mais pobres (Anônimo, 2001).
Dados da Pharmaceutical Research and Manufacturers of America
(PhRMA), entidade que defende (inclusive, pelas atividades de lobby 76),
os interesses da indústria dos EUA, apontam que dos 137 fármacos voltados
para enfermidades infecciosas sob estudo em 2000, havia somente um para
potencial emprego contra a malária e um outro para a enfermidade do sono;
73 Aos interessados em dados sobre vendas, entre novembro de 2002 e o mesmo mês, em 2003, segundo regiões e
países, além das categorias terapêuticas, podem consultar http://open.imshealth.com/download/nov2003.pdf
(acessado em 10/2/2004). As tabelas principais são reproduzidas no Apêndice.
74 Avaliando-se os medicamentos novos descobertos nos 25 anos, compreendidos entre 1975 e 1999, por exemplo,
verifica-se que 179 estavam indicados para doenças cardiovasculares do total de 1.393 fármacos surgidos no período
considerado, ao passo que apenas 13 tinham as enfermidades tropicais como indicação (dois deles para tuberculose:
rifapentina e pirazinamida; os 11 restantes foram halofantrina, mefoqlina, artemeter, ato-vaquona, para a
malária; benzonidazol, nifurtimox, para a Doença de Chagas; albendazol, para helmintíases; eflonitina, para trimanossomíase
humana africana; ivermectina, para oncocercose; oxamniquina, praziquantel, para esquitossomose)
(Anônimo, 2001).
75 A “carga de enfermidade” expressa-se em anos de vida adaptados a incapacidades (DYLA, Disability-Adjusted Life
Years).
76 Exemplo desse tipo de atividade é a pressão, intermediada por negociadores do governo dos EUA sobre a Austrália
para que esse país corte os subsídios estatais a fármacos aprovados e que redundam, ao final, em preços bem mais
reduzidos para os pacientes; em troca, o setor agrícola australiano teria maior acesso ao mercado dos EUA
(Burton, 2003b).
nenhum deles destinava-se à leishmaniose ou à tuberculose (PhRMA,2001a).
A relação de novos medicamentos em desenvolvimento, divulgada em site na
Internet pela entidade mencionada, apontava oito fármacos para impotência
e disfunção erétil, sete para obesidade e quatro para alterações do sono
(PhRMA,2001b). Persistem – e até mesmo sofrem incremento – as perspectivas
no sentido da orientação da P & D para fármacos direcionados
a problemas advindos do envelhecimento da população, nos países desenvolvidos
(se a vida média, na Europa, ao final do século 19 não chegava
aos 50 anos, atualmente passa dos 76), isto é, para doenças crônicodegenerativas.
A promessa de fármacos para doenças como a de Alzheimer
ou para a perda da memória que, na verdade, estudos recentes indicam
iniciar-se-ia bastante precocemente, exemplifica de forma transparente os
rumos das estratégias das empresas farmacêuticas inovadoras: elas tentam,
por exemplo, otimizar preparados contra a doença de Alzheimer que, na
verdade, possam vir a ser utilizados a partir dos 50 anos, como medida
profilática (os efeitos colaterais atuais dos fármacos em estudo, ao lado de sua
ação apenas melhorando a atenção e a concentração dos portadores, não
interferindo no alvo crucial que é a perda da memória, ainda apresentam
obstáculos a serem superados para viabilizar essa indicação preventiva).77 O
olhar no potencial de mercado explica, sobejamente, as motivações de
Hoffmann-La Roche para adquirir a modesta empresa farmacêutica criada
por Eric Kandel – Memory Pharmaceuticals – neurologista, prêmio Nobel
de Medicina, que fez avançar o conhecimento de detalhes dos processos
cerebrais de ‘aprender’ e ‘recordar’ e que, com base nas descobertas básicas
a que chegara, passou a buscar substâncias que atuassem em doenças
degenerativas neuronais, como é o caso da doença de Alzheimer, mais
especificamente perseguindo o propósito de frenar a perda da memória
(Anônimo, 2003e).
A Figura 9 pretende retratar os tipos de necessidade que são cobertas
pelo mercado farmacêutico, em termos globais e a Figura 10, conforme
77 Pode-se presumir o potencial de mercado para fármacos que possam vir a atuar, eficazmente, no tratamento e,
sobretudo, na prevenção da perda da memória, na medida em que se confirmem indícios de que a mesma se inicia
já a partir dos 25 anos (no meio da década dos 50, o cérebro começaria a “encolher”, com uma diminuição
anual da ordem de 1%), sendo que, aos 70 anos, 60% dos indivíduos apresentariam deficiência de memória
(Anônimo, 2003e).
comentado antes, o quão insignificante é, no contexto geral, o número de
fármacos lançados tendo por alvo as doenças tropicais.
Figura 9 – Tipos de necessidades cobertas pelo mercado farmacêutico mundial
Fonte: Anônimo, DND – Drug neglected diseases (MSF), 2001.
A Representa as enfermidades em nível mundial (a exemplo do câncer, doenças cardiovasculares,
transtornos neurológicos e que concentram a atenção da P & D. Ainda que acometam pessoas tanto
em países desenvolvidos, como em subdesenvolvidos, nesses últimos os seus portadores não têm como
custear os tratamentos e, assim, suas necessidades não estão cobertas pelo mercado farmacêutico).
B Representa as enfermidades esquecidas (a exemplo da malária e da tuberculose, que atraem pouco
interesse da P & D, mesmo que afetem pessoas que vivem no mundo desenvolvido, sua prevalência é bastante maior em populações dos países subdesenvolvidos).
C Representa as enfermidades mais esquecidas78 (a exemplo da doença do sono, leishmaniose, doença
de Chagas que acometem exclusivamente populações dos países subdesenvolvidos. Em função da
pobreza que as caracteriza, o acesso pago ao tratamento é absolutamente impossível e, por isso,
termina sendo um mercado real praticamente nulo, ficando, pois, excluídas da P & D e do mercado
farmacêutico).
Z Representa a proporção do mercado farmacêutico integrado por fármacos destinados a problemas
não propriamente médicos (a exemplo da celulite, calvície, rugas, regimes alimentares, estresse, mas
que se constituem um mercado sumamente atrativo (vide item 1.5).
78 Entende-se por “enfermidade esquecida” ou “negligenciada” uma doença mortal discapacitante para a qual não existe
tratamento ou este é inadequado e seu potencial para o mercado farmacêutico não é suficiente para atrair as inversões
do setor privado e as respostas dos governos têm sido, igualmente, inadequadas (além da malária e da tuberculose,
podem ser assim consideradas, a tripanossomíase humana africana (doença do sono), a doença de Chagas, dengue,
a leishmaniose, a hanseníase, a filariose e a esquistossomose; à exceção das duas primeiras, as demais podem ser
tidas como “muito esquecidas” acometendo pessoas tão pobres que seu poder aquisitivo, por mais que tente
intervir nas leis do mercado, não conseguirá despertar o interesse da indústria farmacêutica) (Anônimo, 2001).
Figura 10 – Fármacos novos desenvolvidos no período 1975-1999 – 1.393 novas
entidades comercializadas
Fonte:Trouiller et al., Lancet 2002, 359: 2.188-94.
Em 2001, o Grupo de trabalho DND de MSF, associado à Harvard
School of Public Health, efetuou um inquérito com 20 grandes empresas
farmacêuticas, tendo 11 delas respondido ao questionário destinado a avaliar
o nível dos seus investimentos em P & D de fármacos para ‘enfermidades
esquecidas’. As 11 empresas detêm 117 bilhões de dólares dos 402 bilhões de
dólares (estimativa do mercado global para 2002) e do total investido em P & D (oscilava entre 500 milhões e mais de um bilhão de dólares), apenas
25% encaminhavam-se para doenças infecciosas (Anônimo, 2001).
Nas duas últimas décadas, diferentes instituições, particularmente a
OMS, elaboraram estudos dos quais emanaram diretrizes e estratégias
bastante claras e apropriadas perseguindo o uso racional dos medicamentos.
Nelas têm sido privilegiados programas de medicamentos genéricos 79 como
parte de uma Política de Medicamentos Essenciais mais abrangente e da qual
79 Entendemos aqui por ‘genérico’ a especialidade que contém a mesma forma farmacêutica e igual composição
quali e quantitativamente em substâncias medicinais que outra especialidade de referência, cujo perfil de eficácia
e segurança esteja suficientemente estabelecido graças ao seu uso clínico continuado. O medicamento genérico
deve demonstrar a equivalência terapêutica com a especialidade de referência mediante os correspondentes estudos
de bioequivalência e biodisponibilidade.
consta, igualmente, a elaboração de uma lista básica e de um Formulário
Terapêutico Nacional, assim como do estabelecimento de um Sistema de
Farmacovigilância. A racionalização do uso dos medicamentos e a ampliação
do acesso aos mesmos80 implicam na adesão às estratégias contempladas na
proposta contida no conceito e programa de medicamentos essenciais
(Chowdhury, 1988; Lunde, 1993).
A proposta de trabalhar com um número mais restrito de medicamentos
tem origens remotas a partir mesmo das contingências próprias de lugares
onde não se dispunha de outra alternativa, tendo os médicos aprendido a
andar com não mais de 20 produtos vitais em sua bolsa ou os navios que
singravam os oceanos levavam cem medicamentos ou menos. Antes da
2ª Guerra Mundial, não sendo, ainda, um país desenvolvido, a Noruega
começou a ampliar a idéia de uma lista básica para o conjunto da população,
disponibilizando para a mesma um número limitado de medicamentos a um
preço acessível. A idéia aos poucos foi se difundindo: Papua Nova Guiné
tinha uma política baseada nos ‘medicamentos essenciais’ no começo dos
anos 1950; Sri Lanka a adotou em 1959 e Cuba já dispunha de uma lista de
medicamentos essenciais em 1963 (Quick, 1997).
Os Programas de Medicamentos Essenciais81 têm contado com o
respaldo e apoio tanto logístico, quanto financeiro da OMS que, a partir de
meados dos anos 70, formula e passa, crescentemente, a difundir esse tipo
de programa (Vernengo, 1993; WHO, 1977). À frente das mencionadas
iniciativas tem estado o hoje denominado Departamento de Medicamentos
Essenciais e Política Farmacêutica da organização. A proposta, na verdade, já
nos anos mencionados (década de 70) passa a contar com o respaldo
de outras agências das Nações Unidas que passam a incluir, entre suas
80 No começo da década de 90, estimava-se que 15% da população mundial apropriavam-se de 85% da produção
total de medicamentos e as informações para o final da década, não alteraram, em essência, esse quadro. As
disparidades de acesso, sobretudo aos chamados ‘medicamentos essenciais’, não se restringem apenas aos países
subdesenvolvidos. Segundo Henry e Lexchin, nos EUA, muitos idosos e pessoas que não dispõem de seguros de
saúde não conseguem adquirir os fármacos que necessitam, o que é agravado pelo fato de não estarem acessíveis
descontos que grandes compradores podem auferir. Nada menos de um terço dos afiliados ao programa Medicare
(mais de 13 milhões de idosos), desprovidos da cobertura de seguros, pagam altos preços pelos medicamentos que
necessitam (Henry e Lexchin, 2002).
81 ‘Medicamento essencial’, segundo a OMS, é aquele que corresponde às necessidades sanitárias prevalentes em
uma comunidade, tem baixo custo, apresenta eficácia terapêutica e o menor número possível de efeitos adversos,
estando sempre disponível.
preocupações, o tema do acesso aos medicamentos. Nesse sentido, a
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(Unctad) explicita seu apoio aos nomes genéricos, aquisição competitiva,
assim como a medidas para viabilizar compras de forma conjunta; a
Organização para o Desenvolvimento Econômico das Nações Unidas
(Unido) enfatiza a necessidade de organização de cooperativas para a produção
local e regional e o Fundo das Nações Unidas para as Crianças
(Unicef ), já dispondo de larga experiência no fornecimento direto de
medicamentos por meio da sua divisão de suprimento, assume a causa dos
medicamentos essenciais, em trabalho conjunto com a OMS, já ao final dos
anos 1970. O envolvimento das agências das Nações Unidas torna-se mais
visível e assume maior coordenação com a repartição de atribuições, o Unicef
concentrando-se no suprimento, a OMS nas políticas, a Unctad nos temas
ligados à comercialização e a Unido nos temas relacionados ao desenvolvimento
industrial.
Recentemente, a OMS fez um levantamento para averiguar a situação
dos Programas de Medicamentos Essenciais no mundo. O estudo constatou
que o número de países que, inspirados na proposta da Organização, já havia
formulado uma política nacional de medicamentos passara de 14, em 1989,
para 88, em 1997 (WHO, 1998). Um outro estudo aprofundou a avaliação
qualitativa dos programas implantados em diferentes países, realçando os
ganhos obtidos (Kanjii, 1992). Em 1999, 156 países tinham estabelecido
uma lista de medicamentos e 127 deles haviam procedido uma revisão das
mesmas no qüinqüênio anterior (OMS, 2002a). Os fatores que atuam
positivamente para a efetivação dessas listas são resumidos no Quadro 12.82
Os Quadros 13 e 14 sintetizam, respectivamente, um conjunto de
atividades, que podem subsidiar a utilização mais racional dos medicamentos
e as atribuições de um comitê de medicamentos e terapêutica, segundo
sugestões formuladas pela OMS.
82 A lista modelo proposta pela OMS sofre atualização a cada dois anos, contando sua versão mais recente, a de
2002, com 325 princípios ativos, dividindo-se em uma lista principal e uma outra, complementar.
Quadro 12 – Fatores-chave para a aplicação eficaz de uma lista de medicamentos
essenciais
Fonte: OMS, 2002b.
Quadro 13 – Intervenções fundamentais para promover o uso racional dos
medicamentos
Fonte: OMS, 2002b.
Quadro 14 – Responsabilidades de um comitê de medicamentos e terapêutica
Fonte: OMS, 2002b.
Dificilmente haverá uma utilização racional dos medicamentos sem
que se proceda a regulamentação e controle de todos os agentes envolvidos
no uso desses insumos. O elenco das medidas reguladoras mais importantes
para que seja factível assegurar o uso adequado dos medicamentos, estão sintetizadas
no Quadro 15.
Quadro 15 – Medidas reguladoras importantes para favorecer o uso racional dos
medicamentos
Fonte: OMS, 2002b.
Entende-se por políticas de preços diferenciados, às vezes designada
segmentação do mercado, preços escalonados, preços preferenciais, ou preços
rebaixados, o descenso voluntário de preços de medicamentos por iniciativa
dos produtores para determinados mercados (isto é o que ocorreu em 2002,
com respeito a medicamentos patenteados, tal como se deu com medicamentos
para a Aids (Barros, 2001).83
A Figura 11 resume as questões-chave envolvidas na problemática do
uso mais adequado dos medicamentos, considerando os problemas de saúde
prevalentes como sendo a matriz que orientará a formulação de pautas clínicas,
a lista de medicamentos essenciais, a capacitação de recursos humanos, o
financiamento e abastecimento que, ao final, podem conduzir à melhoria de
qualidade na atenção aos pacientes.
Figura 11 – Etapas a seguir perseguindo uma melhor atenção aos pacientes em
farmacoterapia
Fonte: OMS, 2002a.
83 Proposições, com respeito às estratégias para rebaixar preços, com uma avaliação crítica das mesmas, são apresentadas
em documento divulgado pela organização não-governamental Médicos sem Fronteiras e reproduzido no
Apêndice.
O objetivo precípuo da nova proposta para a política nacional de
medicamentos brasileira é o de “garantir a necessária segurança, eficácia e
qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da
população àqueles considerados essenciais”. A primeira das diretrizes
desse novo diploma legal relaciona-se à adoção da Rename, da qual constam “aqueles produtos considerados básicos e indispensáveis para atender a
maioria dos problemas de saúde da população”. Como tal, esses medicamentos “devem estar continuamente disponíveis aos segmentos da sociedade
que deles necessitem, nas formas farmacêuticas apropriadas e compõem uma
relação nacional de referência que servirá de base para o direcionamento da
produção farmacêutica e para o desenvolvimento científico e tecnológico,
bem como para a definição de listas de medicamentos essenciais nos âmbitos
estadual e municipal, que deverão ser estabelecidas com o apoio do gestor
federal e segundo a situação epidemiológica respectiva”. O enunciado
explicita coerência absoluta com os ditames há anos formulados e disseminados
pela OMS, sendo de se esperar que, na medida de sua implementação,
possam ser vislumbrados passos importantes na consecução do uso mais
adequado de medicamentos no País. Urge, contudo, que a legislação
apontada transforme-se em medidas que contemplem os âmbitos da
produção, registro, dispensação e prescrição.
Entre as diretrizes propostas na portaria em discussão, no item que
dispõe sobre a regulamentação sanitária de medicamentos, dá-se realce à
promoção do uso de medicamentos genéricos e prevê-se a obrigatoriedade
da utilização da denominação genérica nos editais, propostas, contratos,
notas fiscais, assim como nas compras e licitações públicas de medicamentos
realizadas pelos órgãos públicos (Ministério da Saúde, 1998).