Políticas Farmacêuticas: a Serviçodos Interesses da Saúde?
José Augusto Cabral Barros
As Conferências Pan-americanas de Harmonização da Regulação Farmacêutica
A OPAS tomou a iniciativa de organizar conferências relacionadas com
a harmonização da regulamentação farmacêutica na região das Américas.
Funcionam como um fórum aberto à participação de agências reguladoras
de medicamentos, indústria farmacêutica, organizações de consumidores,
universidades, associações profissionais.
Como fruto dessas conferências, reconheceu-se a importância de
valorar as atividades de harmonização, com vistas a propiciar aos organismos
nacionais da Região o acesso à informação atualizada. A Primeira
Conferência Pan-Americana sobre Harmonização da Regulamentação
Farmacêutica realizou-se em Washington, D.C., de 17 a 20.11.1997, com o
propósito de dar seqüência aos processos de harmonização em andamento
através dos diferentes organismos que vinham cuidando do tema. Uma das
recomendações, aprovada por unanimidade, foi o estabelecimento de um
fórum hemisférico, com a OPAS assumindo o papel de Secretaria. A este
fórum caberia propiciar espaço para os países que não participavam dos
grupos de integração existentes (casos, por exemplo, de Cuba, República
Dominicana e Chile (este último, de todo modo, tem sido considerado como
parte das discussões do Mercosul).
Sugeriu-se também o desenvolvimento, por acordo mútuo, de termos
de referência para o Comitê Diretor envolvendo os seguintes tópicos: (1)
estrutura e operações; (2) questões jurídicas, administrativas e normativas da
regulamentação; (3) intercâmbio de informação e comunicações, com ênfase
no acesso à Internet e traduções; (4) treinamento para fortalecer a capacidade
técnica; (5) outros temas gerais de interesse mutuo (OPAS, 2000). Nessa
mesma ocasião, houve um encontro das Agências reguladoras, com a participação
do Centro de Avaliação e Pesquisa Farmacêutica, da FDA. Na
ocasião, foram selecionados temas científicos, técnicos e de estratégia geral
que mereciam esforços de colaboração, a exemplo de ‘biodisponibilidade’,
‘bioequivalência’, ‘Boas Práticas de Fabricação’, ‘laboratórios de controle e
vigilância’ e ‘melhor comunicação entre os Reguladores e países das
Américas’. No início de 1999, houve, em Caracas, uma reunião de consulta
para o estabelecimento de um conselho diretor para as Conferências.
Concomitantemente, realizou-se encontro do Grupo de Trabalho Regional
sobre Bioequivalência e, em maio, em Buenos Aires se reuniu o Grupo de
Trabalho sobre Boas Práticas Clínicas.
Por ocasião da 2ª Conferência, realizada em Washington, celebrada de
02 a 05.11.1999, foram discutidos os seguintes temas: ‘bioequivalência’,
‘boas práticas clínicas’, ‘boas práticas de fabricação’, ‘falsificação de produtos’
e a ‘classificação dos tipos de produtos farmacêuticos’. Recomendou-se que
houvesse mais empenho nessas temas e que, quando factível, fossem levadas
em conta atividades de harmonização.
Apresentam-se, em seguida, algumas das principais propostas
aprovadas nessa Conferência:
• A harmonização deve ser entendida como a busca de consenso no
quadro de padrões reconhecidos, levando em conta a existência de
diferentes realidades políticas, sanitárias e legislativas nos países da
Região.
• A missão das Conferências é promover a harmonização normativa para
todos os aspectos de qualidade, segurança e eficácia dos produtos
farmacêuticos como contribuição à qualidade de vida e saúde dos
cidadãos dos países das Américas.
• Deve-se estabelecer uma “Rede Pan-Americana para Harmonização da
Regulamentação Farmacêutica” com conferências pan-americanas
bianuais para proporcionar um fórum aberto às partes interessadas.
• Deve-se formar um Comitê Diretor para promover o progresso entre
as Conferências mediante coordenação, promoção, facilitação e monitoração
dos processos de harmonização nas Américas.
• Os processos de harmonização devem abranger não somente os aspectos
de regulamentação no registro de medicamentos, como também a
sua comercialização, cabendo uma análise prévia do seu impacto no
acesso aos medicamentos.
Em Porto Rico, no período de 2 e 3 de abril de 2000, se realizou a
Primeira Reunião do Comitê Diretor da Rede Pan-Americana para
Harmonização da Regulamentação Farmacêutica. O principal objetivo desta
reunião foi desenvolver um plano de trabalho para um biênio, em conformidade
às recomendações da Segunda Conferência Pan-Americana sobre
Harmonização da Regulamentação Farmacêutica, cujas prioridades e plano
de trabalho, são apresentados no Apêndice.
A estrutura atual da Rede é mostrada na Figura 5. Os GTs (Grupos
de Trabalho) são nove, a seguir discriminados, indicando-se, entre parênteses,
as instituições que os lideram:
1. Boas Práticas de Fabricação (BMP/FDA);
2. Bioequivalência e Biodisponibilidade (FDA);
3. Boas Práticas Clínicas (ANMAT);
4. Classificação de Produtos (SS-MEX);
5. Medicamentos Falsificados (ANVISA);
6. Farmacopéia (USP);
7. Boas Práticas de Farmácia;
8. Agências Reguladoras de Medicamentos;
9. Entidade Regional.
Figura 5 – Estrutura da Rede Panamericana de Harmonização da Regulamentação
Farmacêutica
A edição mais recente do evento (terceira Conferência) ocorreu em
Washington, entre 24 e 27.04.02 e as discussões estiveram centradas nos
objetivos seguintes:
• Fomentar a convergência dos sistemas de regulamentação farmacêutica
nas Américas mediante um diálogo construtivo entre as entidades
de regulamentação e outros setores de interesse.
• Intercambiar informação sobre o estado de avanços nos processos de
harmonização da regulamentação farmacêutica nos distintos grupos
de integração econômica da Região das Américas.
• Dar seqüência à Resolução CD42.R11 sobre harmonização da regulamentação
farmacêutica aprovada no 42º Conselho Diretor da OPAS.
• Promover a harmonização da regulamentação farmacêutica adotando,
após análise, as recomendações e propostas harmonizadas formuladas
pelos Grupos de Trabalho estabelecidos pela II Conferência Panamericana
sobre Harmonização Farmacêutica (Washington, 1999).
• Formular recomendações à Rede Pan-americana para a Harmonização
da Regulamentação Farmacêutica (Rede PARF) para o período subseqüente
de trabalho.
Em relação às atividades publicitárias e de vendas pelas páginas web,
foram aprovadas as seguintes recomendações (as recomendações gerais estão
reproduzidas no Apêndice):
• Combater a publicidade com publicidade, enfatizando a importância
da prescrição e alertando sobre o perigo de comprar medicamentos de
má qualidade. É preciso que a população entenda bem a importância
da avaliação que as autoridades sanitárias realizam quando outorgam
registro sanitário a um produto.
• Houve acordo sobre a necessidade de se obter informação sobre
possíveis danos causados por compras por Internet.
• Foi mencionado o certificado que emite a Junta da Associação
Nacional de Farmacêuticos dos EUA às farmácias que têm páginas na
Internet, como uma forma de promover a informação adequada.
• Foi evidenciado que o gasto que a indústria realiza com publicidade
representa um quarto do seu gasto total. Foram, igualmente, mencionados
alguns benefícios da publicidade por Internet, a exemplo da
divulgação de efeitos secundários.
• Foi manifestada, igualmente, a necessidade de realizar um diagnóstico
de situação identificando os problemas, mas também propondo
soluções.
• Foi reiterada a necessidade de fortalecer os organismos reguladores
para poder enfrentar este novo desafio.