Políticas Farmacêuticas: a Serviçodos Interesses da Saúde?
José Augusto Cabral Barros
A farmacovigilância no Brasil
Com atraso injustificado (em 1995 já se chegara à formulação de uma
proposta e estratégias bastante consistentes para institucionalizar um sistema
de farmacovigilância no país), no último biênio foram dados passos mais
concretos no sentido da implementação da farmacovigilância em nível
nacional.
Subordinada à Gerência Geral Pós-comercialização da ANVISA, existe
a Unidade de Farmacovigilância a qual, visando proteger e promover a saúde
dos usuários dos medicamentos, pretende assegurar o uso racional e seguro
dos mesmos, para o que foram definidas as seguintes estratégias:
54 Os Grupos C e B correspondem a 54,5% e 6,3% do total de produtos, respectivamente.
• Notificação voluntária de reações adversas (devem ser notificadas
reações adversas, queixas técnicas, toxicidade ou falhas terapêuticas
devido a interações medicamentosas, falhas terapêuticas / O
Formulário adotado, reproduzido no Apêndice, já estando disponível
para preenchimento eletrônico na página web da ANVISA, ainda que
esteja facultado o uso de fax, telefone e correio postal).
• Manutenção da Rede de hospitais sentinela (hospitais de grande
porte/alta complexidade motivados e capacitados para a notificação
precoce de eventos adversos).
• Criação de rede de médicos sentinela.
• Criação de rede de farmácias sentinela.
• Inserção do Brasil no Programa Internacional de Monitorização de
medicamentos da OMS.
• Promoção do uso racional de medicamentos.
• Processo de investigação de sinais.
• Processo de monitoramento de recolhimentos em níveis nacional e
internacional.
• Processo de revisão do mercado (busca de medicamentos com relação
risco/benefício nula ou inaceitável; identificação de medicamentos
banidos em outros países e dos com associação de princípios ativos
irracionais).
• Processo de revisão da legislação (registro; revalidação).
• Descentralização das ações de farmacovigilância (criação de Centros
Estaduais de farmacovigilância (até meados de 2002 existiam formalizados
os Centros de São Paulo e do Ceará55); instituição de Centros
de Farmacovigilância em hospitais sentinela.
55 O GPUIM, em convênio com a Secretaria Estadual de Saúde do Ceará, foi um dos pioneiros na implementação
de atividades concretas de farmacovigilância no país, tendo, inclusive, publicado boletim
periódico e realizado Seminários sobre farmacoepidemiologia e farmacovigilância.
• Validação das bulas de medicamentos.
• Inserção da farmacovigilância nos programas de assistência farmacêutica.
Em maio de 2001 foi criado o Centro Nacional de Monitorização de
Medicamentos (CNMM) e, em abril de 2003, foi aberta consulta pública
com o propósito de angariar sugestões à proposta de Resolução que estabelecerá
as atribuições do CNMM (os termos da mencionada consulta são
reproduzidos no Apêndice). Em agosto de 2001, o Brasil passou a fazer
parte do programa internacional da OMS, como sendo o 62° país a ingressar
no sistema.
Na Figura 8 se indica o fluxo pretendido das informações que se prevê
para o sistema de monitoramento de medicamentos através da web.
Figura 8 – Sistema de Monitoramento de Medicamentos
Estão estabelecidas, no país, atualmente quatro formas de captação de
notificação via formulários:
a) Formulário de notificação de suspeita de reação adversa a medicamentos – para profissionais de saúde.
b) Formulário de notificação de desvio da qualidade – para profissionais
de saúde.
c) Comunicação de evento adverso – para usuário de medicamentos.
d) Sistema eletrônico de notificação/SINEPS – para hospitais sentinela56.
Gráfico 4 – Distribuição do número de notificações recebidas pela UFARM/ANVISA (1999 a 2003)
56 Distribuída por todo território nacional a rede de ‘hospitais sentinela’ (estão, previstas de início 100
unidades hospitalares) servirá para monitorar a qualidade e o perfil de segurança dos medicamentos
utilizados em nível hospitalar, além de promover o uso racional desses medicamentos. Além desses hospitais,
já estão em operação um sistema de notificação voluntária de suspeita de reações adversas com
formulário disponível na internet e dois centros estaduais de farmacovigilância – no Ceará e em São
Paulo, estando programada a instalação de centros similares nas 27 unidades da Federação.
O volume de notificação vem aumentando ano após ano, conforme se
verifica no Gráfico 4, e em 2003 foram coletados 1983 notificações, sendo
24% consideradas reações graves.
O Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Estado de
São Paulo está consolidando o Centro Regional correspondente, tendo organizado
um sistema de farmacovigilância hospitalar, que teve início em março
de 2002, cada unidade participante (os quinze hospitais públicos da área
metropolitana de São Paulo) contando com uma equipe formada de um
médico, um farmacêutico, uma enfermeira e um funcionário administrativo.
Tem havido um alto grau de participação dos profissionais envolvidos,
existindo um programa de formação continuada e que contempla, entre outros
temas, o uso racional de medicamentos, atuando os mencionados profissionais
como agentes multiplicadores para o restante do corpo técnico-profissional
do hospital.