Políticas Farmacêuticas: a Serviçodos Interesses da Saúde?
José Augusto Cabral Barros
A Conferência Internacional de Harmonização dos Requisitos para Registro de Produtos Farmacêuticos (ICH)
Trata-se de um processo de harmonização compartilhado por EUA,
Europa e Japão, refletindo as prioridades oriundas do desenvolvimento científico
e tecnológico alcançado pelo setor farmacêutico e, por isto mesmo, as
iniciativas tomadas em comum vêm sendo principalmente orientadas para
unificar procedimentos em relação aos ensaios clínicos e à pesquisa e avaliação
de novos produtos. A introdução destes últimos, nos diversos mercados,
tropeçava, precisamente, nas discrepâncias de critérios vigentes nos diversos
países em relação aos processos de investigação e desenvolvimento das
inovações farmacêuticas. O que se pretende obter a partir da harmonização
de normas no campo mencionado é um fluxo mais ágil de produtos novos,
sem prejuízos do trabalho de vigilância e controle e uma melhoria significativa
na qualidade da investigação, no desenvolvimento e nos processos
de avaliação dos produtos farmacêuticos. Os processos, pois, “no sólo se
armonizan y ganan agilidad, sino que también mejoran en calidad y
reducen significativamente sus costos” (Arango, 1997).
A International Conference on Harmonization (ICH) teve início em
1990, como um projeto conjunto da indústria e das autoridades reguladoras36,
com o propósito de tornar o desenvolvimento do setor farmacêutico,
bem como os processos de registro, mais eficientes, com melhor custoefetividade
e tendo em conta os interesses da saúde pública. Atualmente,
36 O empreendimento tem como entidades patrocinadoras: Comissão Européia da UE, European Federation of
Pharmaceutical Industries Associations (EFPIA), Ministry of Health and Welfare (Mhw), do Japão, Japan
Pharmaceutical Manufacturers Association, Food and Drug Administration e Pharmaceutical Research and
Manufacturers of America (PhRMA).
as exigências de natureza técnica requeridas para comprovar a eficácia,
segurança e qualidade já foram quase que totalmente harmonizadas no âmbito da UE, dos Estados Unidos e do Japão. Já foram realizadas seis
conferências (a cada dois anos), tendo o que poderia ser considerada a fase
inicial das atividades previstas para a ICH, tido termo na quarta Conferência,
realizada em Bruxelas, em julho de 1997. Nesta ocasião, foram definidos
os princípios que deveriam orientar 45 tópicos a serem harmonizados,
compreendendo quatro grandes categorias:
• ‘Qualidade’, relacionada a aspectos químicos e farmacêuticos.
• ‘Segurança’, englobando os estudos pré-clínicos in vitro e in vivo.
• ‘Eficácia’, referente aos estudos clínicos em humanos.
• ‘Multidisciplinar’ englobando tópicos que não se enquadram nas
categorias anteriores, a exemplo da terminologia médica37 e padrões
eletrônicos para a transmissão da informação reguladora.
Durante a quarta conferência, igualmente, houve concordância
quanto à segunda fase da atividade a ser desenvolvida pela ICH e que
deveria assegurar:
• mecanismos para harmonizar novas exigências técnicas fruto do desenvolvimento
técnico e científico na pesquisa farmacêutica inovadora;
• procedimento para atualização e complementação dos princípios para
os quais se chegou a um consenso, monitorando sua aplicação com
vistas a garantir a continuidade do grau de harmonização alcançado;
37 www.ifpma.org/ O ICH Medical Dictionary for Regulatory Activities (MeDRA) foi desenvolvido a partir da
terminologia usada pela Medicines Control Agency do Reino Unido, para as atividades da farmacovigilância e
inclui sinais, sintomas, enfermidades, provas diagnósticas e seus resultados, procedimentos médicos e cirúrgicos,
história familiar, médica e social. Já está disponível, os interessados podendo informar-se através do e-mail
khuntley@bdm.com. Maiores informações sobre a ICH e suas atividades podem ser obtidas em ich1.html
• prevenção de eventuais desarmonias por meio de intercâmbio de informação
precoce de temas que vão emergindo, com respeito ao processo
de autorização em quaisquer das três regiões.
Para cada tema de discussão selecionado, cria-se um grupo de trabalho
com um especialista representante de cada uma das entidades patrocinadoras
(Experting Working Group). O processo de harmonização é coordenado
por um Comitê, (Steering Committee) que se reúne três vezes ao ano, coincidindo
com as reuniões dos grupos de trabalho, a ele competindo decidir
quais os temas que devem ser harmonizados, responsabilizando-se pelo
seu seguimento com vistas a corrigir e evitar disfunções, adotando os
documentos conclusivos. A estratégia adotada para atingir o processo de harmonização
comporta uma série da etapas ou fases e que são as seguintes: na
primeira, busca-se chegar a um acordo entre os representantes das entidades
em proposta que, uma vez formulada se envia ao Steering Committee que,
por sua vez, o encaminha para apreciação das agências reguladoras das três
regiões; terminada a ampla consulta desencadeada na fase anterior, na fase
quatro, o Comitê recomenda adoção do documento pelas três agências,
seguindo-se a incorporação na legislação de cada país (Montero, 1998b).