Políticas Farmacêuticas: a Serviçodos Interesses da Saúde?
José Augusto Cabral Barros
Mais iniciativas em favor do acesso a medicamentos essenciais
Diversas iniciativas vêm sendo tomadas no plano internacional, no
sentido de atuar em defesa dos ‘medicamentos essenciais’ e dos ‘genéricos’ e
do acesso universal aos mesmos, a exemplo do Fórum realizado em 12 de junho
de 2001, na Colômbia que congregou organizações não-governamentais
(como Oxfam, MSF, AIS) além de organismos com atuação continental,
como a Opas, no qual estiveram presentes 250 participantes, e que
decidiu fazer uso de todos os espaços possíveis para contrapor sistemática
campanha de desinformação destinada a desacreditar os medicamentos
antes mencionados.
Em junho de 2002, ocorreu em Brasília a primeira reunião de
ministros de Saúde do G-15, proposta no Encontro de Chefes de Estado dos
países que compõem o mencionado grupo (Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia, Egito, Índia, Indonésia, Irã, Jamaica, Quênia, Malásia, México,
Nigéria, Peru, Senegal, Venezuela e Zimbabue). O propósito da reunião foi
intercambiar idéias e soluções sobre os grandes problemas sanitários comuns,
com ênfase na questão do acesso aos medicamentos. Os pontos mais importantes
acordados foram:
• que se facilite o acesso universal a medicamentos como um direito
humano;
• que os acordos internacionais de comércio, em especial Adpic, não se
oponham ao acesso a medicamentos e à negociação de recursos adicionais
para a saúde;
• que se amplie a estratégia de genéricos como um componente da
política de medicamentos para melhorar o acesso e o uso racional.
Ressaltou-se a necessidade de que os genéricos sejam intercambiáveis e
com qualidade;
• que se trate de reduzir o incremento exagerado nos preços de medicamentos84 e as grandes diferenças, observadas eventualmente, nesse
aspecto, entre as distintas marcas de um mesmo princípio ativo;
• que se facilite o acesso a informações confiáveis sobre mercados e
preços internacionais, que permitam tomar melhores decisões; e
84 Vale citar a argumentação das empresas ao realçar que, em grande medida, a discussão sobre o tema confunde “preços” e “gastos” deixando de considerar os fatores que acionam o incremento do dispêndio farmacêutico e que
se relacionaria menos ao incremento de preços que ao uso de produtos inovadores e preexistentes, devido,
inclusive, à valorização crescente que os consumidores outorgam aos fármacos como fonte de melhores níveis de
saúde (Keith, 2002).
• que se melhore a regulação de preços de medicamentos, considerando
as imperfeições do mercado e sua capacidade de auto-regulação.
A MSF, organização de ajuda humanitária, que brinda assistência
médica em mais de 80 países e que, paralelamente, busca sensibilizar a
sociedade a respeito dos problemas enfrentados pelas comunidades a que se
vincula, em 1999, criou uma Campanha pelo Acesso aos Medicamentos
Essenciais. Entre outras conquistas, a campanha vem conseguindo, com
várias organizações não-governamentais, despertar e ampliar o interesse pelas
dificuldades de acesso a fármacos básicos com o fornecimento, com preços
menores, de medicamentos requeridos para enfrentar a tuberculose multirresistente
e a produção de quatro medicamentos para combater a doença do
sono. Mais recentemente, a MSF com outras entidades (OMS, Rockfeller
Foundation), convocou uma conferência realizada em outubro de 1999, cujo
fruto principal foi a criação de um Grupo de Trabalho sobre Medicamentos
para Enfermidades Esquecidas. O grupo, independente e multidisciplinar,
congrega expertos, pesquisadores, profissionais vinculados a organismos
reguladores de países desenvolvidos ou não, vem estudando os fatores
determinantes da crise de P & D de fármacos para doenças como leishmaniose,
doença do sono, tuberculose e malária e propondo alternativas. O grupo vem
reivindicando aos governos, organizações internacionais, entidades privadas
o compromisso com estratégias que propiciem medicamentos para as
enfermidades olvidadas.
Em fevereiro de 2003, convocados pela OMS, Unaids e Unicef
estiveram reunidos, entre outros, representantes da International Generic
Pharmaceutical Alliance (IGPA) e Generic Manufacturers of Antiretrovirals
(ARVs) tendo-se chegado à conclusão de que urge ampliar espaços de
colaboração que no futuro devem contemplar aumento da competição com
vistas a baixar preços e assegurar o fornecimento de fármacos essenciais
para enfermidades prioritárias tais como Aids, tuberculose e malária.
Diversas outras organizações não-governamentais realizam trabalho
intensivo e diversificado, algumas delas constituindo redes mundiais, como é
o caso da HAI (Health Action International). Congregando grupos que trabalham
em saúde ou na defesa dos interesses dos consumidores, a HAI atua
em mais de 70 países, trabalhando em favor do uso racional dos medica-
mentos, defendendo uma política em relação a esses produtos de tal
forma que esses sejam sempre seguros, eficazes, tenham preços acessíveis e
correspondam às necessidades médicas reais. Para isso, realiza campanhas,
inquéritos, produção de material educativo para o público ou para profissionais
de saúde, enfatizando a necessidade de controle sobre as atividades
promocionais e a disponibilidade de informações equilibradas e independentes.
Conta com escritórios de coordenação regional na África (Nairobi/
Quênia), Ásia (Penang/Malásia), Europa (Amsterdam/Holanda) e América
Latina e Caribe (Lima/Peru) (vide Apêndice). Nesse último, a rede – Acción
Internacional para la Salud (AIS) – está presente em 15 países, tendo no
Brasil, como grupos mais importantes, a Sociedade Brasileira de Vigilância
de Medicamentos (Sobravime)85 e o Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de
Medicamentos (Gpuim).86